segunda-feira, 30 de julho de 2012

Pequenos nadas



Os clichés e os ditados populares jogam na mesma modalidade, muito embora os ditados façam parte da primeira liga e os clichés estejam na liga de honra. Mas o que interessa não é ganhar, é participar, e o conceito em si é o mesmo: conhecimento empírico resumido numa pequena frase. 

Português que se preze, tem presente no seu discurso um conjunto destas frases e não pensa duas vezes antes de as utilizar. Cruzamo-nos na rua e, em 5 minutos de conversa, fogem-nos da boca para fora. Assim, num breve encontro, por mais madrasta que a vida seja, o importante é ter saúde, muito embora com o mal dos outros possamos nós bem.A análise politica fica facilitada, porque isto dos políticos são todos iguais e, a verdade, é que para além das eleições, quem se lixa é sempre o mexilhão.

Um tema que dá pano para mangas é o tempo. Eles dão tempo na rádio, na net e na televisão e a cavalo dado não se olha o dente, muito embora no ano passado não estar nada assim, até estava uma temperatura completamente diferente. Mas eles é que sabem. 

Nos encontros e reencontros com estas bengalas argumentativas e explicativas, falamos com a nossa identidade, salvo seja. Sabe muito bem telas sempre na boca, sem querer ferir suscetibilidade, já que a língua portuguesa é muito traiçoeira.




segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ornatos


Há coisas que ficam abandonadas a um canto, cobertas de uma indiferença que as deixa apodrecer. 

Sem ninguém dar por nada, alojam-se num espaço escondido, atrás de um móvel ou debaixo da vida, e vão ganhando um bolor ideológico. Ficam sentadas no mesmo sítio ano após ano após ano, e ganhamos-lhes pó. Lentamente começam a fazer parte das nossas vidas e esquecemo-nos do seu odor fétido, da sua incomodidade, ao ponto de as considerarmos, ao fim de alguns anos, inofensivas.

Depois comemo-las estragadas, causam-nos enjoos, dores de barriga, vómitos e expelimos essas coisas do nosso sistema. Ficam onde as deixámos. Primeiro como lembrança de uma má experiência, depois, tal como uma palavra repetida muitas vezes, deixam de fazer sentido e tornam-se uma coisa coberta de indiferença. 

E deixamo-las ali, abandonadas a um canto, a apodrecer outra vez no mesmo sítio. 




sexta-feira, 20 de julho de 2012

HIstórias do tamanho da minha altura

O pequeno livro do tamanho de qualquer pessoa, vai voltar a ter atenção. Desta vez, a Fnac do Colombo vai recebê-lo e apresenta-lo a quem ainda não o conhece. 

As histórias vão ser contadas pela Joana Caldeira (escritora) e Maria Vidigal (ilustradora) que vão oferecer um pequeno presente a quem quiser levar um livro para casa. 

Fica aqui o convite para sábado, dia 21, pelas 15h na Fnac do Colombo.



terça-feira, 17 de julho de 2012

Inidentidade


Hoje em dia consideramo-nos todos revolucionários porque aderimos a eventos políticos no facebook; consideramo-nos todos fotógrafos, porque tiramos montes de fotos nas nossas máquinas digitais; consideramo-nos todos artistas porque colamos umas coisas ou fazemos bijuteria; consideramo-nos todos escritores, porque temos blogs, ou coisas parecidas, onde escrevemos o que nos passa pela cabeça; consideramo-nos todos cultos porque lemos os títulos gordos de todos jornais na internet; consideramo-nos uns bichos sociais porque temos montes de amizades virtuais; achamos todos que somos cozinheiros porque fizemos um workshop de sushi no mês passado; consideramo-nos todos ecologistas, porque separamos o lixo de vez em quando; consideramo-nos todos aptos para treinadores, porque seguimos todos os anos o mundial ou o euro (e porque temos o melhor jogador do mundo); consideramo-nos solidários porque damos comida para o banco alimentar uma vez por ano.

Consideramo-nos todos muito mais do que somos mas, na realidade, andamos a desenrascar uma vida. Afinal, o que é que somos realmente?



segunda-feira, 9 de julho de 2012

É como encontrar um palheiro numa agulha


Só se fala de um determinado membro do governo e da sua prestação académica. Neste caso todo, o que me anda a fazer confusão é que existem muitos exemplos como ele, uns ainda mais descarados (olha o Alberto João para aqui chamado de novo), e ninguém os chateia. 

O nosso problema não é ter um Miguel Relvas, é termos muitos Miguéis Relvas por aí e sermos condescendentes com essa situação. Só quando um jornalista se irrita é que estas informações, que nos estão mais inacessíveis, chegam a público e ao Público. 

E, nessa perspetiva, os jornalistas que tanto se têm sentido ultrajados e magoados, também não exercem da melhor forma o seu papel como divulgadores de informação verdadeira, uma informação que segue um trabalho de pesquisa que, por sua vez, segue (ou seguia) uma deontologia. 

Os jornalistas criticam as pressões dos políticos, os políticos arranjam influência nos grandes grupos económicos, os donos desses grandes grupos pensam deséticamente no seu trabalho prejudicando trabalhadores e a economia, os trabalhadores culpam o governo, que não gosta de jornalistas, que não gostam de políticos, mas que obedecem a grupos económicos que não gostam de trabalhadores, até trabalhadores que são jornalistas, que não dizem nada dos grandes grupos económicos que são geridos por pessoa que devem favores a políticos, que criticam esses grupos económicos, mas que se submetem às suas influências, e por aí fora… 

Não percebo como é que, no meio de toda esta confusão, só salte um indivíduo à baila. Não é estranho?