quarta-feira, 20 de junho de 2012

O que é que isso interessa? Não sai no exame.


Daniel Oliveira aqui no expresso

Quarta feira, 20 de junho de 2012


Num país com baixos índices de escolarização e altos níveis de iliteracia, os pais tendem a confundir a preparação, a cultura e o conhecimento dos seus filhos com as notas que eles têm em exames. Este "conhecidómetro" instantâneo transformou-se no alfa e no ómega do nosso sistema educativo. Pouco interessa o que realmente se aprende na escola e qual a utilidade do que se aprende para o desenvolvimento intelectual, cultural, técnico e emocional (desculpem, "emocional" não, que é "eduquês") da criança (desculpem, "criança" não, que é "piegas") e do adolescente. A escola tem apenas uma função: preparar para os examesA.
Um pai um pouco mais exigente, que tente acompanhar os estudos do seu filho, depara-se sempre com a mesma avassaladora e pragmática resposta: "pai, isso não me interessa, não sai no teste"; "mãe, não é assim que está no livro". A nossa escola promove duas coisas: a completa ausência de sentido crítico e a capacidade de memorização. Não desprezo a segunda, muitíssimo longe disso. Mas, se não me levarem a mal, não chega.
Na escola portuguesa também se despreza cada vez mais a capacidade de desenvolver projetos, em grupo ou individualmente, promove-se pouco o desejo de ir mais longe do que é debitado nas aulas e dá-se muito pouco valor à expressão oral. Depois de centenas de exames, um aluno com excelentes notas pode acabar a escola sem saber desenvolver oralmente uma ideia e sem conseguir argumentar num debate. Porque o essencial da avaliação é feita através de provas escritas, sem consulta, e iguais para todos.
Compreende-se esta opção: é aquela que melhor serve o raciocínio do burocrata. E para o burocrata a exigência não se mede por o gosto por aprender (ui, o que eu fui escrever!) e pelo desenvolvimento de capacidades que são forçosamente diferentes, de pessoa para pessoa. O burocrata abomina, pela sua natureza, as variações que lhe estragam os gráficos.
Os testes e exames não servem para avaliar o que se aprendeu nas aulas e fora delas, as aulas é que servem para os alunos se prepararem para os testes e exames. E avaliados de uma forma que, com raríssimas exceções, nunca mais vão voltar a experimentar na sua vida. Nunca mais, em toda a minha vida, me tive de sentar numa secretária e despejar por escrito o que, como a esmagadora maioria dos alunos, tinha decorado uns dias antes.
O ministro Nuno Crato passa por um reformador. Porque alguém meteu na cabeça das pessoas que há uma qualquer relação entre a "escola moderna" (um movimento pedagógico considerado libertário) e as práticas e teorias em vigor nas escolas públicas e no Ministério da Educação. Na realidade, a escola sonhada por Nuno Crato é muito próxima da escola que realmente temos. Ele apenas decidiu agravar todos os seus vícios: a "examinite" aguda, o domínio absoluto do que a gíria estudantil chama de "encornanço" e o predomínio burocrático da avaliação como princípio e fim das funções do ensino. Lamentavelmente, como poderemos ver comparando o nosso sistema educativo com os melhores da Europa - o finlandês, por exemplo, que tem os melhores resultados no mundo apenas tem, que eu saiba, um exame no fim do ensino secundário -, este sistema não prepara profissionais competentes, pessoas interessadas e cidadãos conscientes. Este sistema burocrático, pensado por burocratas, apenas forma excelentes burocratas.
Nuno Crato já tinha criado os exames no final do 2º ciclo e, absoluta originalidade em toda a Europa, no final do 1º ciclo. Promete agora a introdução de mais exames nacionais, no final de cada ciclo, em mais disciplinas. Não tenho a menor dúvida que a medida é popular. Popular entre muitos pais, que podem ver as capacidades dos seus filhos traduzidas em números, sem terem de acompanhar o que eles realmente sabem. Popular entre muitos professores com menos imaginação que têm assim metas bem definidas, sem a maçada de trabalhar com a singularidade de cada aluno.
A escola, como uma fábrica de salsichas, é o sonho do ministro contabilista, do professor sem vocação e do pai sem paciência. Não vale a pena é enganar as pessoas: não se traduz em qualquer tipo de "exigência" (uma palavra com poderes mágicos, capaz de, só por ser dita, transformar a EB 2 3 de Alguidares de Baixo no Winchester College) nem em mais qualificação profissional e humana dos jovens portugueses. Os países que conseguiram dar à Escola Pública essa capacidade seguiram o caminho oposto. Aquele que Nuno Crato abomina.



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Costas com costas


A nova taxa de segurança alimentar vai entrar em vigor. Diz o governo que esta medida é essencial já que irá garantir a qualidade dos produtos. Como? Porque com esta taxa foi criado o Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar que financia os custos do controlo desta área, passando por várias vertentes distintas que vão desde a proteção dos animais até à segurança alimentar. 

Tudo isto me fez pensar numa coisa: Mas onde raio anda a ASAE? Não é suposto ser ela a tratar desta área? Em vez de se criar um fundo onde o único interesse pela comida são os tachos, porque é que não se reveem os poderes das entidades já existentes adaptando-as e mudando-as conforme as necessidades? 

Esta politica do “faz-se de novo” e que nunca é pensada a longo prazo faz-me sentir que não vivemos todos na mesma realidade, que há uma discrepância gigante entre os interesses e os papeis que cada um escolhe no nosso país. 

E essas realidades díspares são espelhadas não só na política mas em todas as formas. Por exemplo, a seleção que nos representa, que representa o nosso país e todos os portugueses no campeonato europeu de futebol, é a que mais gasta, numa ostentação que demonstra uma grande falta de respeito e que nos simboliza de forma errónea. 

Parece que somos um país feito de pessoas que não falam umas com as outras nem estão cientes da vida umas das outras. 

Talvez por isso tenha havido esta vaga de manifestações onde cada um puxa a brasa à sua sardinha mas ninguém tem sardinhas para comer. E voltamos à comida e às injustiças porque, no fundo, quem vai pagar esta taxa de segurança alimentar não vão ser as grandes superfícies, vamos ser nós. 



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Estamos que nem a Nicole o o Tom naquele filme


"PORTUGAL É EXEMPLO DE COESÃO SOCIAL E DE COMO SAIR DA CRISE"
Sublinhou o ministro da Economia

O Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) foi tornada uma empresa pública, contra tudo o que tinha sido acordado com a Troika, ao deixar bem claro que devia ser posto um travão forte em relação este tipo de opções por parte do Estado.

“CAVACO PEDE URGÊNCIA NA ADOPÇÃO DE NOVAS POLÍTICAS DE EMPREGO"

Surpresa das surpresas, foi escolhido para liderar esta instituição João Pereira Rato que, coincidência das coincidências, simpatiza com o partido laranja que, mais outra coincidência, é o partido que está no governo.
E numa altura de crise, qual é o salário de um presidente de uma empresa pública? O mesmo que o do Primeiro-ministro.

"PRIVATIZAÇÃO DOS INFANTÁRIOS DA SEGURANÇA SOCIAL CAUSAM DESPEDIMENTOS COLETIVOS"

Numa altura em que se anda a vender o património ao desbarato, em que se anda a privatizar quase todas as empresas públicas, há umas que seguem um critério pouco claro e, normalmente, são essas que deviam ser as mais bem explicadas.


"CORRUPÇÃO POTENCIA CRISE EM PORTUGAL"



segunda-feira, 4 de junho de 2012

O verão tão perto


Os astros assim o quiseram e a combinação cósmica aconteceu: Rock in Rio, santos populares e futebol. Este terá sido o melhor fim de semana para a maior parte da população portuguesa e o pior para esse peixe da família dos Clupeidas, a sardinha. 

Devemos ter voltado a impressionar e a derrotar os nossos amigos europeus com consumo de cerveja; a extensão do bailarico deve ter batido recordes já que começava na Bica e acabava no Parque da Bela Vista; mesmo que não se quisesse ver o jogo era inevitável, já que os ecrãs invadiram os cafés e esplanadas. 

O que me impressionou é que havia gente em todos os sítios. 65 mil no estádio da luz, mais uns belos milhares no Rock in Rio, nos bailaricos que percorrem Lisboa é mais difícil ter números oficiais.

E o resultado deste fim de semana foi o seguinte: Portugal teve uma prestação terrível, o Rock in Rio sacou mais uns milhões e foi-se embora de barriga cheia (o mote deles é solidariedade, mas só uma ínfima percentagem vai para quem mais precisa), o Santo António que tanto se celebra nem sequer é o verdadeiro padroeiro de Lisboa.

Este ano, até estranhei serem só crianças a pedir tostõezinhos.