quarta-feira, 1 de junho de 2011

O comboio para o ocidente

A Patrícia Geraldes tirou o curso de belas artes no Porto, foi expondo por Portugal e por outros países, mas não é pelo currículo que queremos falar dela. Isso são tudo coisas escritas e documentadas que podem encontrar aqui.
Queremos falar da Patrícia porque já viajou por muitas partes do mundo onde se perdeu, mas veio viver para Portugal numa aldeia perdida.

Sendo transmontana, é impossível não se lembrar da pergunta frequente que todos os tibetanos lhe faziam: Na tua terra há montanhas? A saudade que eles lhe lembravam é agora a saudade que tem do povo que considerou ser o mais genuíno e bonito.

Os tibetanos que estão fora do Tibete, estão sempre a juntar dinheiro para regressarem ou conhecerem o seu país em extinção e isso inspirou-a para fazer a série de 4 telas coloridas em homenagem ao povo tibetano intitulada “Todos os cavalos brancos espalharam a noticia que no mundo não ia haver mais cavalos brancos. Passaram por mim tão depressa que nem tive tempo de falar”. 

O oriente foi uma forte inspiração, até porque Patrícia viveu os últimos 2 anos na Índia. Neste país foi o poder das castas que a marcou. A hierarquia racial que define à nascença quem deve, ou não, ter acesso a privilégios, fez acontecer a Red gallery. Esta galeria baseou-se na seguinte ideia: só uma elite muito rica tem acesso à cultura, se a cultura estiver na rua todos a podem apreciar sem qualquer restrição. Juntou-se com dois artistas indianos, 5 alunos de belas artes e uma artista russa. Durante uma semana ao final da tarde, fizeram uma intervenção num jardim público. Os convidados VIPs conviveram com todos os transeuntes, numa rara mistura cultural.

Este tipo de intervenção seria impensável na Tunísia, onde esteve a viver durante a ditadura do General Zine El Abidine Ben Ali. Neste país sentiu na pele a censura logo na chegada à fronteira, onde deixou para trás livros e CDs proibidos. Com o telefone sob escuta e com um polícia a vigiar o atelier onde trabalhava, decidiu expor à revelia. Numa casa particular, montou uma exposição que estava indicada na rua com setas feitas por ela. Cada vez que acabava de as pôr tinha que recomeçar porque iam sendo removidas por pessoas invisíveis. Os únicos que apareceram foram amigos, porque o medo era maior que a curiosidade. O resultado desta exposição foram as caixas de desenho, caixas transparentes inspiradas nas mulheres tunisinas, que se reúnem em casa umas das outras para pintarem os seus véus.  

Depois destas e muitas outras viagens, voltou para Portugal onde ficamos a aguardar resultados sabendo que esta não é a sua última paragem. Entretanto, podem conhecer o trabalho da Patrícia Geraldes neste site, ou podem vê-lo ao vivo e a cores na Fábrica do Braço de Prata até ao dia 29 de junho.

As palavras engolidas são sempre água nos meus olhos

 

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